quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

MICHAEL FOUCAULT E SUA IMPORTÂNCIA PARA A HISTÓRIA DA SEXUALIDADE HUMANA

Paul-Michel Foucault nasceu em 15 de outubro de 1926. Filho de Paul Foucault, cirurgião e professor de anatomia em Poitiers, e Anna Malapert, Michel pertencia a uma família onde a medicina era tradição, pois tanto o avô paterno quanto o materno eram cirurgiões, mas Michel traçou o próprio caminho. Desde cedo demonstrou interesse pela história influenciado por um professor que teve ainda na escola, padre De Montsabert. Foucault era uma pessoa curiosa, o que fazia com que buscasse por conta própria suas leituras. Seu interesse pela filosofia não tardou a aparecer, aprofundando seus estudos com entusiasmo. Como pano de fundo, Foucault vivia os tormentos da Segunda Guerra Mundial.
Foucault e o pai tinham uma relação conturbada, o que não se repetia com a mãe, com quem mantinha forte vínculo. Mudou-se para Paris em 1945, e retornava sempre que podia para visitar a mãe em Poitiers. Enquanto preparava-se para provas, concorrendo a vagas como aluno na École Normale da rue d'Ulm, Foucault entrou em contato com Jean Hyppolite, professor que lhe ensinou Hegel e reforçou seu encanto e sua vocação para a filosofia, marcando-o profundamente. Em 1946, iniciou seus estudos na École Normale da rue d'Ulm. Foucault trazia com ele a característica de ser uma pessoa solitária e fechada, o que foi tornando-se cada vez mais forte, pois as relações e a competitividade por parte dos alunos desta escola fizeram com que ele recuasse ainda mais do contato social. Tornou-se uma pessoa agressiva e irônica, características estas que se mantiveram por toda sua vida. Em 1948 Foucault tentou suicídio, o que acabou levando-o a um tratamento psiquiátrico. Este impulso, retornou outras vezes em sua vida. Segundo o psiquiatra que o acompanhou, esta atitude estava ligada à dificuldades frente a sua homossexualidade, que começava a anunciar-se. Esta experiência colocou-o pela primeira vez em contato com a psiquiatria, psicologia e psicanálise, o que marcou profundamente a sua obra. Foi leitor de Platão, Hegel, Kant, Marx, Nietzsche, Husserl, Heidegger, Freud, Bachelard, Lacan, etc. Foucault aprofundou-se nos estudos de Kant. influenciado também por Nietzsche, por quem apaixonou-se, e por Bachelard. Leu também autores como Kafka, Faulkner, Gide, Genet, Sade, René Char, etc. Este filósofo tornou-se grande amigo de Louis Althusser, que o levou a aderir ao partido comunista. Por toda a vida esteve às voltas com a política. Licenciado em filosofia pela Sorbone em 1948, em 1949 licenciou-se em psicologia. No ano de 1952 cursou o Instituto de Psychologie e obteve diploma de Psicologia Patológica. No mesmo ano tornou-se assistente na Universidade de Lille. Foucault lecionou psicologia e filosofia em diversas universidades, em países como: Alemanha, Suécia, Tunísia, EUA, etc. Trabalhou durante muito tempo como psicólogo em hospitais psiquiátricos e prisões. Escreveu para diversos jornais. Viajou o mundo apresentando conferências. Em 1955 mudou-se para Suécia, onde conheceu Dumézil. Este contato foi importante para a evolução do pensamento de Foucault, pela idéia de estrutura que Dumézil desenvolveu. Conviveu com pessoas importantes da intelectualidade de sua época, como Jean-Paul Sartre, Jean Genet, Canguilhem, Gilles Deleuze, Merlau-Ponty, Henri Ey, Lacan, Binswanger, etc. Em 1961 defendeu tese de Doutorado intitulada: "Loucura e Desrazão". Esteve no Brasil em 1965 para conferência à convite de Gerard Lebrun, seu aluno na rue d'Ulm em 1954. Foucault faleceu no dia 25 de junho de 1984, em plena produção intelectual, o que fez com que sua morte fosse muito sentida. A causa da morte foi em função de complicadores provocados pela AIDS, Foucault tem septicemia, o que provoca sua morte por supuração cerebral no dia 25. Quando morreu, Michel Foucault era o pensador mais famoso do mundo. Ainda que fosse algo menos popular do que havia conseguido ser Jean-Paul Sartre depois da Segunda Guerra Mundial, desde os fins dos anos 60 sua obra ocupou o lugar central.
Michel Foucault morreu aos 57 anos: tinha AIDS em uma época em que a doença era rapidamente mortal. O vírus havia sido descoberto, apenas dois anos antes que o filósofo morresse, por Luc Montagnier, um pesquisador que foi discípulo do Dr. Paul Foucault, pai de Michel.
Nesses últimos trabalhos, (A história da sexualidade II – O uso dos prazeres) e (A história da sexualidade III – O cuidado de si) de 1984, Foucault provoca mais uma inversão e retorna à Grécia clássica e a Roma dos primeiros séculos do cristianismo para analisar o modo como surgiram os primeiros discursos sobre a constituição do sujeito. Essa virada é considerada por vários intérpretes de seu trabalho como uma virada para a busca de uma ética que sempre faltou em seus escritos. Já há esse tempo Foucault era explorado como um mentor da revolução sexual e emancipador de consciências. Papéis que de fato nunca assumira. Mesmo porque, não poderia em razão de seu compromisso com a filosofia de inspiração nietzscheana.
Há grandes discussões à respeito de Foucault representar ou não a corrente estruturalista. O próprio autor em sua obra, "O nascimento da clínica", usa pela primeira vez o termo estrutura, demonstrando neste texto a intenção de realizar uma análise estrutural. Em 1969, em seu novo texto "Arqueologia do saber", Foucault revela que a análise estrutural não o auxiliou a tratar da problemática que pretendia no texto "O nascimento da clínica". Ao contrário, acredita que a análise estrutural acabou por nublar a problemática em questão.
O homem, para este filósofo, ocupa um papel importante, uma vez que é sujeito e objeto de conhecimento. Considera o homem enquanto resultado de uma produção de sentido, de uma prática discursiva e de intervenções de poder. Foucault discute o homem, enquanto sujeito e objeto do conhecimento, através de três procedimentos em domínios diferentes: a arqueologia, a genealogia e a ética. A ética, para Foucault, é a possibilidade de apontar o sujeito que constitui à si próprio como sujeito das práticas sociais. É o momento para refletir o motivo pelo qual o homem moderno constitui critérios de um modo de subjetivação em que tenha espaço a liberdade. Encontra-se este método principalmente em "O uso dos prazeres" e "O cuidado de si". Esta elaboração foi feita nos últimos meses da vida de Foucault, momento em que parecia surgir para este filósofo a necessidade de pensar sobre ele mesmo.
Vigiar e punir funcionava ainda como um protesto contra as filosofias do sujeito, que atribuem esse mecanismo de conhecimento e poder a uma intencionalidade oculta das ações humanas, o que lhe gerou uma acusação de tecnocratismo por colocar a culpa dessa subjugação do homem em mecanismos anônimos contra os quais não se podia lutar. Para entender bem de que lado Foucault estava nessa denúncia que seguramente havia iniciado com Adorno e Horkheimer de modo bastante semelhante é preciso ler Vigiar e punir acompanhando Para uma genealogia da moral de Friedrich Nietzsche. È possível dessa forma compreender que não existe no percurso de Foucault, sobretudo quando ele chega a Vigiar e punir, um princípio de finalidade, onde o conjunto pode estar assegurado por regras de coerência interna que possam servir de fundamento para uma nova política ou uma nova ética, e como essa atitude se insere no ativismo intelectual.
Nesses últimos trabalhos, (A história da sexualidade II – O uso dos prazeres) e (A história da sexualidade III – O cuidado de si) de 1984, Foucault provoca mais uma inversão e retorna à Grécia clássica e a Roma dos primeiros séculos do cristianismo para analisar o modo como surgiram os primeiros discursos sobre a constituição do sujeito. Essa virada é considerada por vários intérpretes de seu trabalho como uma virada para a busca de uma ética que sempre faltou em seus escritos. Já há esse tempo Foucault era explorado como um mentor da revolução sexual e emancipador de consciências. Papéis que de fato nunca assumira. Mesmo porque não poderia, em razão de seu compromisso com a filosofia de inspiração nietzscheana.
Para seus críticos essa postura neutra serviu como o melhor dos argumentos contra ele. Em 1983 Jürgen Habermas dedicara enorme quantidade de páginas de seu Discurso filosófico da modernidade a Foucault com o objetivo explícito de tirá-lo do caminho, condenando-o a repetidor da velha tradição tiranizante das filosofias do sujeito, onde incluía seus mestres Adorno e Horkheimer. Habermas simplificava: depois de estudar tantos domínios de saber, de mapeá-los e de descobrir que não há saída para esse relativismo, por que lutar então? A perguntar Why fight? resume as preocupações normativas típicas da filosofia liberal feita nos Estados Unidos e Inglaterra, e foi dirigida a Foucault pela primeira vez pela norte-americana Nancy Fraser, uma radical defensora dos direitos civis nos Estados Unidos e que influenciou bastante essa abordagem da obra de Foucault na América do Norte, onde ele passava boa parte dos anos em fins da década de 70, especialmente na Califórnia.
A notícia sobre certa doença que atacava especialmente grupos de risco como os homossexuais abalava a Europa e os Estados Unidos no início da década de 80. Foucault se manifestou contra o quanto pôde, porque insistia que era mais uma forma de marcar mais um grupo de “anormais” com os sinais da degenerescência. O então “câncer dos gays” mal tinha sido diagnosticado quando Foucault se viu com suspeita de ser portador do HIV. No dia 25 de junho Foucault morre em decorrência de uma septicemia, provocada pela AIDS. Uma de suas exigências antes de morrer era de que nenhum de seus textos que estavam sendo preparados fosse publicado após sua morte. O quarto volume da História da Sexualidade estava praticamente pronto e nunca chegou às livrarias. Deveria se chamar As confissões da carne.
Dentro ou fora das fronteiras sociais e políticas hoje cada vez mais diluídas Foucault mostrou que os mecanismos de exclusão e inclusão eram os mesmos quando seus resultados demonstravam a mesma violência, fosse qual fosse o discurso de justificativa ou justificabilidade. Se transformar esses mecanismos parece difícil, abandonar a obra de Foucault para problematizar e compreender melhor a complexidade atual parece ainda mais complicado.

1. O ESTRUTURALISMO E O PENSAMENTO FILOSÓFICO DE MICHEL FOUCAULT

O estruturalismo consiste, essencialmente, numa reação contra o existencialismo. A originalidade do existencialismo está em colocar em evidência o valor do indivíduo, a sua independência, a sua liberdade, a sua autonomia em relação ao Estado, à sociedade, ao universal,
ao geral, às leis e às estruturas.
São numerosos os autores deste movimento. Assinalemos os mais notáveis: Claude Lévi-Strauss, Michel Foucault, Jacques Lacan, entre outros. Foram os antropólogos culturais que se apropriaram do método estruturalista e o aplicaram ao estudo do homem. E dos antropólogos que se dedicaram ao estudo da cultura dos povos primitivos, o primeiro a efetuar esta transposição foi Claude Lévi-Strauss, posteriormente seguido pelo filósofo Michel Foucault
Há também um uso filosófico do conceito de estrutura, tratando-se precisamente das elaborações de pensadores como Foucault, Lacan e Claude Lévi-strauss, que, voltando-se contra o existencialismo, o subjetivismo idealista, o humanismo personalista, o historicismo e o empirismo factualista, deram origem a um movimento de pensamento ou a uma atitude, apresentando soluções bastante diferenciadas das propostas pelas filosofias acima citadas para urgentes problemas filosóficos relativos ao sujeito humano ou "eu" e ao desenvolvimento da história humana e o seu sentido. Em poucas palavras, os estruturalistas pretenderam inverter a direção em que caminhava o saber sobre o homem, decidindo destronar o sujeito (o eu, a consciência ou o espírito) e suas celebradas capacidades de liberdade, autodeterminação e criatividade em favor de "estruturas" profundas e inconscientes, onipresentes e onideterminantes.






OBRAS

"Doença mental e Psicologia" (1954);
"História da Loucura" (1961);
"Raymond Roussel" ( 1963 );
"O nascimento da clínica" (1963 );
"As palavras e as coisas"(1966);
"A Arqueologia do saber" (1969);
"A ordem do discurso" (1970 - aula inaugural do College de France);
"Vigiar e Punir" (1977);
"A vontade de saber - História da sexualidade I" (1976);
"O uso dos prazeres - História da sexualidade II" (1984);
"O cuidado de si - História da sexualidade III" (1984).


CONCLUSÃO


Poucos filósofos do cenário contemporâneo percorreram com tamanha genialidade tantas áreas do saber como Michel Foucault. Brilhante em uma geração de homens brilhantes, o filósofo sobressaiu-se desde o início de sua produção intelectual. Acreditavam os que o conheceram que era ele "a promessa de sua geração". Não estavam enganados: o autor não se deteve diante das tamanhas dificuldades de sua própria existência, aproveitando cada uma delas como base para seus estudos, pesquisas e busca do conhecimento.
O estilo foucaultiano é repleto de multinarrações essenciais para o desenvolvimento de uma escritura que abunda em metáforas, que apela a transformar muitas de suas frases em epigramas, quase em versos, e seus parágrafos em aforismos.
Tais conjecturas fazem de Foucault um escritor, um pensador, um estudioso, que se transformou num dos filósofos que mais profundamente refletiu sobre a história, sobre a sociedade e o homem como objeto deste contexto. Qualificado como detentor de uma potencialidade elevadamente reveladora, Foucault propiciou-nos um legado inestimável e atemporal, consagrado como o poeta do pensamento e inigualável filósofo de nossos tempos.
Foucault é considerado um filosofo de fronteira. Viveu uma homossexualidade não declarada!

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