quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Breves considerações sobre a literatura erótica





Por Carlos Higgie (do livro Caleidoscópio)
 Produzir textos eróticos, escrever sobre algo tão intenso e tão humano, parece que condena àqueles autores, que a tal tarefa se lançam, a uma espécie de segundo plano, a mergulhar num mundo obscuro, a serem tachados de produtores de subliteratura ou simplesmente pornografia. Muitos críticos acreditam que produções com alto conteúdo erótico não acrescentam nada à Literatura e até distorcem um pouco a percepção. Para eles, são livros sem grande conteúdo literário que, apoiados na sua carga erótica, caem no gosto do público e chamam à atenção das forças conservadoras, alimentando, ainda mais, sua fama ao serem censurados e proibidos.
Vários autores concordam que existe uma linha indelével, quase imperceptível ou talvez inexistente, entre o erótico e o pornográfico. Quem é capaz de determinar os limites? De afirmar, com autoridade e livre de preconceitos, o que é pornografia e o que é erotismo? Tudo está na mente de quem lê e interpreta.
Afirma categoricamente Octavio Paz, na sua obra Um Mais Além Erótico: Sade (1999)
Todos os atos eróticos são desvarios, desarrumações; nenhuma lei, material ou moral, os determina. São acidentes, produtos fortuitos de combinações naturais. Sua diversidade mesma delata que carecem de significação moral. Não podemos condenar uns e aprovar outros enquanto não saibamos qual é sua origem e a que finalidade servem. A moral, as morais, nada nos dizem sobre a origem real de nossas paixões (o que nos impede de  legislar sobre elas, atrevimento que deveria ser suficiente para desacreditá-las).
Na corda bamba, equilibrando-se para não cair no ridículo, no ostracismo ou no abismo da condenação pública, o autor que se atreve a produzir relatos, carregados de erotismo, mergulhando nesse mundo incrível, borbulhante, que é a sensualidade humana, deve entender que nem sempre será reconhecido, apesar de ser lido com fruição na intimidade.

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