quarta-feira, 16 de junho de 2010

A filosofia na alcova - Sade

Prefácio á Edição Original


Habent sua fata libelli. Os maus livras também têm seu destino. A obra que estamos em vias de entregar ao público chocará, sem dúvida, aos leitores menos avisados. A crueza das cenas de deboche e a violência dos ataques a todos os princípios da moral consagrada abalam mesmo ao espírito mais habituado a leitura fortes. A depravada orgia da imaginação do famigerado Marquês é tamanha que ninguém o superou até agora e sua obra é, ainda hoje, o melhor documento dos desvarios a que pode atingir a mente humana Nada ele respeita. A religião, a moral, os costumes, os mais puros sentimentos de família a amizade, os nobres impulsos do coração humano são vilipendiados por este espírito doentio e degenerado. Aqueles que tiveram oportunidade de se informar sobre a patologia do espírito humano, os que se interessam pelo estudo das anormalidades sexuais, não estranharão, evidentemente, este pesadelo monstruoso. Para estes, a presente obra valerá como um texto para estudo. Nenhum sexólogo, nenhum psiquiatra, poderá ignorar este documento. Aí está nossa justificação, ao publicá-lo. Ainda mais. Para os leitores e mesmo para os inexperientes, esta leitura, estamos certos, jamais será perniciosa. O espírito são repelirá sua brutal pornografia e sua álgida libidinagem. Quem dispuser de um sólido patrimônio moral repudiará, automaticamente, as elucubrações extravagantes e infantis do autor e, certamente, robustecerá suas crenças e seus princípios ante a insanidade de seus cínicos argumentos. Aliás, para invocar ainda uma verdade consagrada: é preciso conhecer o mal para saber evitá-lo.

Quem foi, entretanto, o Marquês de Sade? Donatien Alphonse de Sade nasceu em dois de junho de 1740. Contava quatro anos quando foi viverem companhia de sua avó em Avinhão. Três anos mais tarde, passou a morar com um tio que o educou até 1750, época em que foi enviado ao colégio Luis-le-Grand, em Paris. Ao sair do colégio, ingressa na Cavalaria Ligeira. Chega logo a alferes do Regimento Real e em seguida a capitão do 7° de Cavalaria, com o qual participa, na Alemanha, da Guerra dos Sete Anos.

Regressa a Paris em 1763 e no mesmo ano se casa por imposição da família. Aqui começa o drama. Sade ama, na realidade, a irmã daquela que lhe destinam e seus futuros sogros, percebendo isso, internam-na num convento. O casamento realiza-se, entretanto. Revoltado, Sade se entrega ao deboche - em companhia de conhecidos libertinos, como o Duque de Fronsac e o Príncipe de Lamballe. Em consequência, mas por motivo não perfeitamente esclarecido, é preso e internado em Vincennes por dois meses. Até 1768 decorre sem novidade sua existência. É então que ocorre o célebre caso de Rosa Keller, prostituta ou simples mendiga que Sade sequestra numa sua propriedade e a quem sevicia, chegando mesmo a feri-la em várias partes do corpo com uma navalha.

Segue-se outro período de tranquilidade até 1772: o Marquês vive em suas propriedades da Provença. Sua mulher vem reunir-se, então, a ele e comete a imprudência de trazer consigo a irmã recém saída do convento. Sade não resiste. Faz a côrte à sua cunhada e como esta resista, embora o ame, engendra um estratagema para rendê-la. Em Marselha, acompanhado de seu fiel criado, compra uma caixa de bombons e neles mistura cantárida. Vai depois a um meretrício e serve as guloseimas às rameiras que, excitadas pela droga, entregam-se à maior orgia, promovendo grande escândalo. Era o que desejava. De posse de uma ordem de prisão que ele mesmo faz questão de obter de um seu amigo membro da justiça, apresenta-se à sua cunhada e declara-lhe que foi em consequência de sua recusa que praticou aquilo e que se submeterá ao castigo, ao suplício da roda, se ela não o acompanhar na fuga. Recolhe-se com ela em Florença, na Itália, e aí vive alguns anos. Com a morte de sua companheira volta para a França, onde é detido em consequência do escândalo de Marselha. Foge da prisão com auxílio de sua fiel e dedicada esposa, que tudo lhe perdoava. Não pode, entretanto, viver pacificamente em seu lar. Ligando-se a urna rameira, volta à Itália e aí permanece até 1777, quando retorna à França. Em 1778, ainda com auxílio da esposa, consegue a revisão do processo de Marselha mas a sogra, que não o quer ver solto, consegue que seja anulada a decisão que o inocentava e Sade é recolhido de novo a Vincennes. Passa seis anos nesta prisão (1778-1784), quatro na Bastilha (1785-1789) e um Charenton, de onde em 29 de março de 1790, em consequência de um decreto da Assembléia Constituinte, é libertado. Suas atividades no desenrolar da Revolução tomam-no suspeito e ele é novamente preso em 93. Só consegue de novo a liberdade em 94. Até 1801 vive tranquilamente ocupado em atividade literárias. Nesta data, tendo publicado um folheto dirigido contra Josefina de Beauhamais e Napoleão, é detido e internado como louco no hospício de Sainte-Pélagie. Nunca mais verá a liberdade. Em 2 de dezembro de 1814, morre, aos setenta e quatro anos de idade. "A Filosofia na Alcova" (La Philosophie dans le boudoir) apareceu pela primeira vez em 1795 como "obra póstuma do autor de Justina", em dois volumes ilustrados. Constitui o mais expressivo dos escritos do Marquês nas práticas do vício. É uma antologia da libertinagem.

Outras obras do autor: "Justine, ou les Malheurs de Ia Vertu", "Juliette, ou Ia Suite de Justine",

"Soloé et ses Deux Acolytes".


OBS.: quem desejar o texto completo pode solicitar por email: clarilenemedeiros@hotmail.com

Um comentário:

Eduardo Cillo / Irlan Farias disse...

Rico o seu blog, certamente não mais do que vc mesma. Te convido para honrar-me em visitas e participações em nosso fórum e também em nosso blog. Saudações Sadeanas!

http://malditosdafilosofia.forumeiros.com/

http://schizobehavior.blogspot.com/